VIOLÊNCIA GERA VIOLÊNCIA
 

CRÓNICA: VIOLÊNCIA GERA VIOLÊNCIA

O mote da crónica de hoje, apesar da cambalhota mais à frente, é a conversa que ouvi sem querer, mas que me deixou sob alerta, em função do conteúdo e, da forma áspera como era vomitada e, audível à UM Quilómetro.

Tratavam-se de DUAS zungueiras, uma delas, parecia ser a mãe do zongue, a dar instruções à outra que ouvia de forma passiva como uma criança na creche a ouvir uma estória.

A mulher que verbalizava com muitos gestos, que chegavam a chamar a atenção dos transeuntes, explodiu os meus ouvidos com a frase: “pode lhe matar. Dizem que as pessoas não dormem, é mentira, vais dormir a vontade…”.

Depois dessa faísca, senti um zumbido de alejar os ouvidos. Algumas pessoas abrandaram a marcha, outras tentaram aproxirma-se das DUAS zungueiras, pareciam querer dizer alguma coisa, mas ninguém teve coragem de parar e, questionar sobre aquelas palavras, que deixaram cincentas as nossas vidas!

Aquelas pessoas talvez estivessem apenas apressadas! Talvez fizessem apologia, de que, cada um sabe de si, ou que elas mesmas, enquanto personagens dessa vida, também estivessem a ir a busca do pão de cada dia como aquelas duas mulheres, e por isso, tinham as suas prioridades.

Mas, confesso que, até hoje, aquela frase me tira o sono. Quanto mais penso nela, mais fico intrigado. Teria alguma coisa que ver com bruxaria? Seria um conselho para a outra vingar-se de alguém? Seria para meter o marido ou um filho na mayombola?

Uma coisa é certa, a forma fria, calculista e convicta como aquela zungueira domesticava a outra para violência, fez-me pensar no valor que damos hoje a vida.

Ainda que a zungueira tivesse motivos legítimos, não posso deixar de pensar na frase “violência gera violência” e, nos zungueiros das redes sociais, que, inundam esses espaços mediáticos com imagens mórbidas. Dito de outra forma, armazenam e partilham imagens de pessoas a serem mortas a pedradas, facadas ou em chmas, enfim! Imagens degradantes sobre a dignidade da vida humana.

Em muitos casos, a partilha desse tipo de imagens é feita como se de um fait diver se tratasse. Quando são vídeos, vemos pessoas a filmarem num ambiente descontraido, algumas riem, outras fingem estar muito sentidas e, ainda outras, o que é mais grave, apoiam o assassinato em asta pública, sejam eles supostos ladrões ou alegados feiticeiros.

Noutros quintais, nos longes da Europa e ocidente em geral, imagens com esse cunho são imediatamente bloqueadas por algoritmos criados para o efeito, ou mesmos por quem gere essas redes redes sociais. No entanto, por cá, parece que impera a selva, ninguém faz absolutamente nada para impedir a proliferação desse tipo de imagens que não acrescenta nada a saúde mental de quem tem prazer em arquivar e partihar imagens sobre sangue e morte humana.

Por isso, tenho quase certeza que essas imagens influenciam negativamente no comportamento das pessoas.

Que me desmintam os psicólogos e psiquiátras, se essas imagens não tormam o ser humano insencível a violência e a morte; se essas imagens não potenciam o lado animal do ser humano; Se essas imagens não tiram o peso de consciência quando se comete uma brutalidade contra uma pessoa, que esses profissionais me desmitam!

Esse siêncio, forçado ou não, é penoso para sociedade, especialmente para a adolescentes e jovens que estão ainda em fase de formação da personalidade, que podem ter já as mentes atrofiadas para a maldade, por culpa do silêncio dos adultos em relação as imagens móbidas que passeiam livremente e, cada vez mais, nas redes sociais.

Como se não bastasse, nesses casos, nunca se fala do direito a imagem consagrado na Constituição da República, que não discrimina ladrões, de bons cidadãos e, mortos, de vivos.

Portanto, o sentimento cerescente de realização da justiça por mãos próprias, pode estar a ser alimentado por essas imagens de violênncia gratuita que proliferam nas redes sociais.

Termino com essa inquietação: as autoridades devem esperar por ordens superiores para varrer esse tipo de imagens nas redes sociais?

 

JOSÉ OTCHINHELO

(28.10.2021)   

 

 

Data de Emissão: 10-10-2021 às 10:00
Género(s): Crônica
 
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