SILÊNCIO!
SILÊNCIO!
O coração parecia que iria explodir, batia com toda a força que ainda lhe restara, o peito inflamado, tinha pouco espaço para respiração, ela estava em pânico, queria viver, mas sentia que, cada vez menos sentelhas de ar tinham acesso aos seus minúsculos pulmões para manté-la viva.
Ela estava assustada, não acreditava no que estava a acontecer, se questionava sobre onde estaria a mãe.
Naquele pouco tempo, vários pensamentos passaram pela sua cabeça, lembrava-se de todo o amor que sempre teve da mãe! Ainda que tentasse correr, de nada adiantava, ela estava cansada, não iria para muito longe. Para piorar a sua situação, não conhecia nenhum parente e nunca tinha ouvido a voz do pai, lutava sozinha para sobreviver apesar da pouca idade!
Foram horas de luta e agonia, a morte mordia os seus calcanhares, o cheiro que sentia estava longe de ser o habitual, para atrás ficaram as brincadeiras e o carinho da mãe! Já não se sentia protegida, no paraíso!
A paisagem tinha mudado, ninguém conseguia ouvir os seus gritos de agonia naquela fátidica manhã.
TRÊS dias antes, deixou de ouvir a mãe cantarolar nas primeiras horas de cada manhã, enquanto fazia as primeiras tarefas domésticas!
Tentava desesperadamente salvar a sua vida! Foi uma manhã de intenso turbilhão. Em alguns momentos pensava que o homem iria parar, mas ele prosseguia, não se importava com a sua dor, apenas queria consumar o acto, sem se importar com a pouca idede dela! Tão nova, tão criança, e já tinha percebido que, afinal existem homens selvagens!
Ninguém imaginava que naquela manhã de sábado, ela estava sozinha, sob intenso sofrimento devido a maldade dos adultos, e lá estava ela, sozinha sem ninguém para a defender ou proteger. Com os olhos a arder chegou mesmo a se perguntar: onde estão as pessoas, porque ninguém me consegue ouvir?
Do outro lado, sua mãe estava imóvel, observando, sem dizer nada, enquanto o homem terminava o trabalho sujo. E antes mesmo que ela parace de respirar, imaginou o rosto da mãe, pensou nos irmãos, há como ela queria estar no colo da avó naquele momento!
O impacto foi tão forte, que de nada adiantou os gritos e a luta para sobreviver, estava completamente indefesa, os pensamentos ficaram confusos, as forças se esgotavam aos poucos e em menos de TRINTA minutos… Silêncio!
Aquela bebé que se encontrava no ventre da mãe, deu o último suspiro, mais um aborto acabou de acontecer!
Que nome teria aquela bebé, como seria o seu rosto, qual seria a cor dos seus cabelos, que sonhos teria, seria uma médica, locutora de rádio, ou uma professora? Ninguém sabe, apenas sabemos que mais um ser foi descartado!
E agora, peço-vos silêncio!
JOSÉ OTCHINHELO
(28.08,2021)