PALAVRAS
 

PALAVRAS

 

Que as palavras têm poder, isso já toda a gente sabe!

Mas, existem palavras tão secas, tão quentes, tão avessas, tão traiçoeiras que raramente quem as vomita consegue imaginar o seu verdadeiro poder.

Sem querer ser assuntoso, senti que esta semana, esse tipo de palavras me perseguia como num filme de terror. Palavras como essas são como lavas de vulcão, destroem tudo a sua volta.

Em dias assim, apetece-me ser etc, economizar nas explicações, não me importar em desconstruir o duplo sentido das frases ou das palavras, apesar da aflição que elas me podem provocar.

Infelizmente mesmo com os neróneos a arder ao ouvir essas palavras, não posso deixar de registar nessas breves linhas as várias novelas que têm estado a se desenrolar na nossa sociedade, e que, expressam bem esse meu desagrado por essas palavras tão amargas, que só rivalizam com o porgante da minha infância.

Acusações, contra-acusações, teorias da conspiração, dissertações e teses que atiram para lama o bom nome de pessoas conhecidas, algumas com responsabilidade de Estado, são cada vez mais frequentes.

Basta ver o que se está a passar naquele órgão de comunicação social, onde revelações sobre alegado assédio sexual e outras malandragens de responsáveis, uns em serviço e outros já exonerados, aparecem em asta pública, atirando para o esgoto as imagens dessas figuras.

Infelizmente os supostos contra-ataques destes nas redes sociais, também não são nada modestos, não poupam nas palavras, são tão afiadas como as dos que fazem as tais acusações sujas.

Para a nossa desgraça, há também palavras em chamas em muitas casas. Nesses casos o lar-deoce-lar, há muito que se tornou num campo de batalha de palavras imjuriosas, esposa contra marido, mariso contra esposa, filhos contra pais, enfim, antes de ouvirmos as notícias sobre agressões físicas e assassinatos nesses espaços, que são mais dormitótios do que lares, já muitas palavras chamuscaram o carácter uns e outros, e segredos de quarto divulgados publicamente!

Hoje por hoje, a resposta na ponta da língua está de tal forma em prontidão, que fui surpreendido por um professor, ao ouvir da janela da sala de aula, enquanto eu percorria o corredor, que “nem todos os medicamentos entram pela boca outros entram pelo…” não vou repetir a tal palavra que, nem na cadeira de Anatomia se usa. Essa resposta caiu em mim como um raio.

O tal professor simplesmente enervou-se porque o aluno a quem estava a ser perguntado não sabia ou não queria responder a pergunta de como os supositórios são administrados, nem vale a pena pensarem que era numa faculdade, era uma aula de Química da 12ª Classe, numa instituição que é tida como modelo.

Como esse, há o caso do polícia que dizia ao taxista, com insistência como um leão a rugir “se eu tirar a farda vou te bater como se fosses meu filho”! Toda essa agressividade verbal só por que o taxista se recusava a entregar a carta de condução. Será que não havia outro método de abordagem?

Pior que o confronto pessoal, são aquelas pessoas que nas empresas, nas comunidades e nas famílias, de forma invisível e gerlmente debaixo do tapete, usam palavras para pregajar, caluniar, falar mal, atribuir más motivações contra aqueles com quem partilham o mesmo espaço social, claramente para apagar o faról desses ou mesmo para lhes mandar abaixo.

Pessoas que usam a língua para derrubar outras são tristes, o seu sorriso só existe porque os dentes fazem parte do esqueleto!

Mas, de palavras não é tudo.

Com esse cabucado de idade que tenho, vi palavras de bajulação num passado recente, e vejo a bajulação sufisticada nos dias actuais, que são tão nefastas para o desenvolvimento como as primeiras, mesmo nos casos em que o bajulado é um “simples” director de escola.

A questão é, que sociedade teremos daqui há alguns anos quando o senso de humor parece estar a desaparecer, quando até palavras de carinho parecem estar a evaporar nas relações amorosas? Ou seja, estamos numa sociedade onde as palavras se tornaram verdadeiras “AK 47”.

Será essa apenas uma coisidência colectiva? Não me peçam respostas, perguntem o que a escola e as igrejas têm feito para a moralização da sociedade.

Termino tal como comecei, as palavras têm poder, para o bem ou para o mal, o que me deixa mesmo preocupado é perceber que até crianças já têm respostas tão afiadas na ponta da língua!

E você, quantas palavras amorosas já usou hoje?

 

JOSÉ OTCHINHELO

 (27.09.2021)

 

Data de Emissão: 27-08-2021 às 10:00
Género(s): Crônica
 
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