OUTRA MAKA MAIS!
CRÓNICA: OUTRA MAKA MAIS!
Dona Fefa, era uma mulher muito respeitada no meu Golfe, na minha infância.
Para todos era o melhor exemplo de mulher e, o lar dela, era daqueles que, estava sempre a ser elogiado.
Nos seus kizangos e outros makongos, esposas e maridos diziam “vê ainda como é que outros vivem”. – uma clara referência ao casal Fefa e Pedro.
As vezes iam mais longe:
– se comporta ainda como a mana Fefa!
– você tamb+em se comporta ainda como o man Pedrito.
Em alguns casos depois desse tipo de comparação, o barulho aumentava, panelas voavam e vizinhos tinham que apaziguar. Noutros casos, o que lhe compararam ficava só já envergonhado e, saia. Fingia que está a ir procurar os amigos mas afinal ia mbora se encher de quimbombo para tentar esquecer a comparação que doia como se lhe tivessem atirado uma kipedra das costas.
Para dar mais raiva em alguns casais, a Fefa e o marido, nem frequentavam nenhuma igreja, dando uma verdadeira lição de que essa coisa de igreja nada tem a ver com comportamento das pessoas, quem é educado é mesmo, não precisa ser adestrado.
Essa tranquilidade no lar da dona Fefa, fez dela conselheira de jovens e mais velhas sobre a vida conjugal. Havia mesmo uma verdadeira rumaria a sua casa de madeira, de dois quartos, sala e um quintal vasto com arvores frutíferas como maça da índia, figueira, mamoeiro e mangueira que davam sombra suficiente para as que esperavam a sua vez de receber os bons conselhos!
Mas dizia, a dona Fefa era uma mulher de trato fácil, elegante e já naquela altura, comandante de uma Esquadra de polícia, no bairro Popular.
Os dias, os meses, os anos foram passando até que uma mulher chega à Esquadra com a cara amarrotada, a sangrar.
Não sei se era por ser a Comandante, ou por ser mulher, tão logo a senhora disse que se tratava de um caso de violência doméstica, a comandante Fefa mandou longo uma patrulha a busca do marido da vítima.
Já na Esquadra, quando a comandante foi ver o agressor, apanhou um susto e começou a chorar torrencial e amargamente. Chorou sem parar por quase UMA hora. Ninguém a conseguia consolar, muito menos entender o que estava a acontecer!
Quando finalmente se acalmou, levantou-se e foi ao seu gabinete sem dizer nada.
O kota Pedro, estava parece é cão que estão a lhe morder nas carraças.
– me tiram daqui, aquela senhora vai me matar.
– qual lá vai te matar, na hora que bateste a tua mulher não pensaste na dor dela. – respondeu um oficial.
– faxavor me tirem só daqui enquanto ela não voltou.
Desta vez, os polícias lhe responderam com silêncio ensurdecedor.
Minutos depois, a comandante regressou sem a farda. Os efectivos mais uma vez ficaram com os neurónios em turbulência, em silêncio se perguntavam se a comandante é bipolar.
“Eu também tenho uma queixa contra esse homem” – explodiu a comandante, enquanto os colegas tentavam compreender toda aquela cena.
“Esse senhor é meu marido e há mais de QUATRO anos que me espanca e viola. Todos esses anos sofri calada, chega, chega Pedro. Acabou, nunca mais vais me tocar”.
A queixosa quando ouviu que afinal o marido tinha outra mulher e que não trabalhava com um ministro para justificar as suas ausências, e que, a casada afinal era a comandante, se mijou mesmo aí de tanto medo!
Coitada não sabia se aguentava a dor da surra, ou da tamanha traição do kota Pedro, ou se, aguentava a dor de saber que foi mbora se entregar na dona do marido!
No momento de falar da surra, começou a gaguejar, a se enrolar, sem saber bem o que dizer. Não há dúvidas que os seus reflexos estavam abalados! Mas, lá conseguiu formalizar a queixa, embora a comandante em nenhum momento se referiu a trição do Pedro. Parece que há dores que doem mais!
Quando a comandante perguntou quantos filhos têm e, ha quanto tempo estavam juntos, ela não deu rodeios.
– temos dois casais de gémeos e vivemos há quatro anos.
Antes mesmo dela terminar a frase a comandante desmaiou.
Outra maka mais!
É caso para se dizer que, quem está debaixo da árvore, ouve melhor o canto dos passaros!
JOSÉ OTCHINHELO
(24.10.2021)