NOS TORNAREMOS MELHORES PESSOAS NO FIM DA PANDEMIA?
CRÓNICA: NOS TORNAREMOS MELHORES PESSOAS NO FIM DA PANDEMIA?
EM Dezembro de 2019, estavámos ainda aos abraços e beijinhos, enquanto o “quintal” da China pegava fogo (com a Covid-19), com relatos a chegarem aos quatro cantos do mundo a dar conta de gente que caia nas ruas de Yuan, como se fossem moscas que apanharam um banho de petróleo iluminante. É claro que muito do que se ouviu, apesar da gravidade, não passava de fake news.
Como dizia, enquanto a China ardia, foi tanta a nossa ignorância que, acreditamos cegamente que a maldita doença nunca ultrapassaria a fronteira asiática. E sem que nos aprecebessemos ainda da gravidade do novo vírus, passamos a limpar tudo que é verdura, nas prateleiras e mercados informais, na certeza de que a nossa mengeleka, o nosso lombi, a nossa kisaca e outras folhas verdes, nos dariam o antídoto capaz de evitar o estrago que o novo Coronavírus fez na China, Europa e outras paragens do planeta vida.
Apesar dessa posição, não vou entrar no debate sobre a raça negra e a Covid-19, nem se as tais verduras evitaram o pior entre nós.
No entanto, foi bem no início da pandemia no nosso país, que surgiram muitos arautos, quimbandas, psicólogos (de ocasião), sociólogos e outros logos que se começou a pregar o surgimento de uma natureza humana mais humana, ou seja, nos tornaríamos melhores pessoas no fim da pandemia.
Ora, não vou falar aqui do que se passa na Síria e na Faixa de Gaza, não falarei dos vários floyds que perderam a vida às mãos da polícia americana, nem direi que o mundo deixou de ter tráfico humano e outras cevícias que atiram para lama a dignidade da pessoa humana e que acontece todos os dias nesse mundo a fora!
Quando ouço esse tipo de discurso, e olho para a realidade social, sinto pena de mim mesmo, os corruptos não se tornaram melhores pessoas, os vários Lussatys têm estado a aparecer na imprensa todas as semanas.
Os gananciosos não se tornaram melhores pessoas, estamos sempre a ouvir falar de mulheres que se engravidam para terem uma mesada garantida do pai da criança.
Os casais não se tornaram melhores pessoas, o número de divórcios e traições conjugais não param de subir.
A comunidade escolar não se tornou melhor, vimos provas escolares irem parar nas redes sociais, ou seja, até fomos um pouquinho domesticados no primeiro mês da pandemia, mas logo a seguir, o lado animal que há em nós e que nunca saíu de nós, voltou com muito mais força, a tal ponto que até a igreja fecha os olhos a pecados tão graves que o Diabo rivaliza com muitas dessas pessoas que vivem das aparências, e cuja a pandemia não foi suficiente para moldá-las e torná-las MELHOR!
JOSÉ OTCHINHELO
22.06.2021