Edição de 21 de Janeiro de 2022

A actualidade mundial andou, esta semana, marcada novamente pela covid as suas variantes e todas as perguntas que continua a levantar. Andou marcada pela tensão Moscovo/Washington, com a troca de avisos e de acusações a subir de tom, com a Rússia a dizer que os EUA e a NATO andam a fornecer armas à Ucrânia (que está bem perto do seu quintal), e os EUA e a NATO a dizerem que a Rússia está a movimentar as suas tropas para invadir a Ucrânia… No Reino Unido, a tensão deriva do ‘Partygate’ e das festas que o primeiro-ministro permitiu e em que participou em plena pandemia, com as restrições que ele mesmo havia anunciado no que já se tornou uma investigação oficial. E, aqui mais perto, o continente regista mais um golpe de Estado, o terceiro em pouco mais de seis meses, a vez do Burquina Faso. Tudo isto enquanto o barril de petróleo se aproxima dos 100 dólares e entre nós o ‘xonera/nomeia’ continua, e continua com a elegância de um elefante numa loja de porcelana…
Porquê exonerar assim, tipo tentativa de provocar ataque cardíaco, apanhando os exonerados de surpresa, no caso do ex-comandante da Polícia Nacional, até em missão de serviço em que representava as instituições do país lá fora? Que imagem deixa lá fora? E dando continuidade às exonerações discricionárias que deixam mais perguntas do que respostas, uma tradição governativa daquelas que mereciam “corrigir o que está mal”, não?
A boa notícia da semana que passou foi para os funcionários da ZAP Viva. Parece que orar resulta (ou que há muito medo das pragas vindas de não ouvir as orações) porque o Ministério da Comunicação Social foi instruído a manter os empregos da estação televisiva a que retirou a licença com base numa falha administrativa qualquer tão mal explicada quantos à maioria das exonerações.
E não deixa de ser cómico este padrão de ordens superiores para manter os empregos de empresas que as ordens superiores colocaram em quase falência. Padrão porque vimos a mesma atitude quando o Ministério do Comércio reagiu a notícias de que uma das cadeias de supermercados que foi apreendida iria despedir trabalhadores. “Não estão autorizados a despedir ninguém!” – foi o que os gestores ouviram segundo fontes das empresas… Confiscam, travam o investimento dos accionistas, põem em causa contratos com terceiros, bloqueiam, manietam, mas exigem que se mantenham os empregos porque mais desemprego fica mal ao Governo – é cómica esta dissociação cognitiva da relação causa-efeito. Temos bons comediantes.
As imagens das filas de jovens de currículo na mão no Kero, na semana que passou, depois de anunciar que estaria a contratar, e antes disso, das filas no Grupo Boa Vida, as filas à porta do hotel que o chefe foi inaugurar em plena pandemia só para ter fita para cortar, e as filas que se registam sempre que há anúncios de emprego, ilustram bem o que é o desespero dos jovens angolanos, cerca de 60% dos quais desempregados. Um desespero que merecia melhor do que esta gestão atabalhoada, confusa, desordeira e desleixada, que leva a que um ministério suspenda actividades sem se preocupar em como as empresas vão cumprir contratos e pagar salários, para entrar depois em pânico quando começa a parecer mal, obrigando a que venham anunciar que vão manter empregos, tendo o Estado que assumir encargos que eram de privados. Um amadorismo predatório para o empresariado privado que só cimenta a instabilidade que não pode senão afugentar investidores que se quer atrair.
São boas notícias para o grupo de jovens da Zap Viva, mas e agora pergunto eu? Vão fazer o mesmo e responsabilizar-se por todo o restante desemprego que a gestão atabalhoada das ordens superiores gerou? Há desempregados dos outros dois canais que foram suspensos com a mesma desculpa de que faltava um documento ou questão administrativa qualquer. Mas há desemprego causado no sector da distribuição, na banca, na construção, na hotelaria, enfim, será que a solução é orarem todos em grupo para que o Governo, que anda a piorar o que estava mal em vez de melhorar seja o que for, os enquadre na função pública também?
A alternativa, mais efectiva à oração, tem sido sem dúvida a greve. E temos visto várias, que aconteceram ou que ficaram pela ameaça, com resultados em termos da negociação com o Governo e com as empresas públicas quase imediatos. São exemplo a greve dos médicos que culminou com algumas vitórias da parte da classe que reivindicava, por exemplo, o levantamento da suspensão ao líder do sindicato, e é exemplo a greve dos taxistas que, apesar do aproveitamento político que se fez, foi bem-sucedida no reverter imediatamente das restrições que haviam sido aplicadas à lotação dos táxis. No entanto, há ameaças de greve por parte do sector da hotelaria e restauração, por parte dos enfermeiros, por parte dos técnicos de comunicação das empresas públicas, por parte dos funcionários da Epal, e, esta semana, entraram em greve os professores que reivindicam aumentos salariais numa moda que parece ter pegado. Sectores descontentes e que têm o potencial de espalhar o seu descontentamento não faltam.
E, à medida que nos aproximamos de eleições, vemos cada vez mais o Governo, com a sua gestão assarapantada, andar feito bombeiro com balde a apagar os fogos que parecem espalhar-se à sua volta cada vez com mais rapidez. Esperemos que não lhe falte a água por causa de uma greve qualquer, enquanto marcamos aqui encontro para a próxima semana na sua Rádio Essencial e no Valor Económico.

PARTICIPANTES

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