Economias Sem Makas: Corredor do Lobito ainda não recebeu um cêntimo dos Estados Unidos, das centenas de milhões de que se fala
A visita do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Angola foi adiada sem data definida, gerando incertezas sobre se e quando acontecerá. Embora o adiamento tenha sido confirmado pela porta-voz da Casa Branca, Carine Jean-Pierre, não foram dados detalhes adicionais, deixando no ar a possibilidade de que a visita possa até não ocorrer. O adiamento foi descrito como “sine die” (sem data marcada), o que coloca a realização da visita em dúvida, especialmente devido ao calendário eleitoral de Angola, com as eleições previstas para Dezembro deste ano. O momento eleitoral pode ser um factor complicador para a visita, levando a questionamentos sobre a viabilidade de ela acontecer num futuro próximo.
Apesar disso, há uma expectativa de que a visita de Biden a Angola seria muito benéfica para o país. As relações entre Angola e os Estados Unidos têm melhorado nos últimos anos, e uma visita oficial de um presidente norte-americano seria vista como um sinal de confiança e apoio ao governo angolano. Essa visita poderia abrir portas para investimentos, fortalecer laços comerciais e ajudar Angola a atrair mais atenção da comunidade internacional, algo essencial num momento em que o país busca diversificar a sua economia e reduzir a dependência do petróleo.
Em paralelo a este contexto, um dos grandes projectos de infraestrutura em Angola, o corredor do Lobito, tem gerado grande expectativa, especialmente no que diz respeito ao seu financiamento. O projecto do corredor do Lobito, que inclui a modernização da linha ferroviária e outras infraestruturas de transporte, é considerado um dos mais importantes para o desenvolvimento económico do país, facilitando o escoamento de recursos minerais da região central de África até ao porto do Lobito, na costa atlântica angolana.
O financiamento do corredor do Lobito será realizado por um consórcio chamado Lobito Atlantic Railway, que venceu a concessão e se comprometeu a investir cerca de 800 milhões de dólares no projecto. No entanto, é importante esclarecer que este montante não será investido inteiramente de forma imediata ou directamente pelo consórcio. Como acontece em muitos grandes projectos de infraestrutura, o investimento será dividido entre capitais próprios e financiamentos externos.
Os accionistas do consórcio deverão investir directamente uma parte menor, algo em torno de 200 milhões de dólares, enquanto o restante do financiamento virá de empréstimos e capitais de terceiros. Esta prática é comum em grandes projectos de infraestrutura, onde o risco é partilhado entre o consórcio e instituições financeiras. Neste caso, os Estados Unidos desempenham um papel importante no apoio ao financiamento, através de uma organização de desenvolvimento chamada Development Finance Corporation (DFC), que tem como objetivo facilitar o acesso a capitais para projectos em mercados emergentes.
O envolvimento dos Estados Unidos no financiamento do corredor do Lobito demonstra o interesse estratégico do país na infraestrutura de transportes em África, especialmente em Angola, que tem uma localização geográfica privilegiada e vastos recursos naturais. A modernização do corredor ferroviário do Lobito irá permitir o escoamento de minerais, como o cobre e outros recursos extraídos da República Democrática do Congo e da Zâmbia, gerando uma nova rota comercial com grande potencial económico.
Contudo, a falta de clareza na comunicação sobre o financiamento tem gerado algumas confusões entre o público, levando a uma percepção exagerada de que “os dólares estão a caminho”. Na realidade, o processo de financiamento é mais complexo e envolve múltiplas fases, incluindo negociações e garantias por parte do consórcio e das instituições envolvidas. O corredor do Lobito é um projecto de longo prazo, e o impacto económico só será sentido gradualmente, à medida que as obras avancem e o transporte de mercadorias se torne mais eficiente.
Em resumo, tanto o adiamento da visita de Joe Biden quanto o desenvolvimento do corredor do Lobito ilustram a complexidade das relações internacionais e dos projectos de grande escala em Angola. Embora existam desafios, as oportunidades de crescimento económico e cooperação entre Angola e os Estados Unidos continuam a ser promissoras, e o sucesso do corredor do Lobito será um teste importante para a capacidade de Angola em atrair e gerir grandes investimentos internacionais.