Economia Sem Makas, Vêm aí os microseguros e "micropreços.

Economia Sem Makas, edição de 22 de Abril de 2025

TEMA: Vêm aí os microseguros e “micropreços.

Micro-seguros: solução acessível ou ilusão para quem vive com baixos rendimentos?

Por Carlos Rosado de Carvalho | Economia Sem Makas | 22.04.2025

A edição desta terça-feira do programa Economia Sem Makas, comentado por Carlos Rosado de Carvalho, destacou a chegada dos chamados micro-seguros a micro-preços ao mercado angolano. A proposta promete tornar o acesso aos seguros mais democrático, especialmente entre as camadas sociais de baixos rendimentos. No entanto, há dúvidas sobre o real impacto dessa medida no aumento da taxa de penetração dos seguros no país.

Segundo o jornalista, os micro-seguros são produtos com coberturas reduzidas, prémios baixos e capital igualmente limitado. “O próprio nome já diz tudo: são micro. Tanto a proteção quanto o custo são pequenos”, explicou Rosado. No entanto, para que essa modalidade seja sustentável, os custos de criação e distribuição também precisam ser reduzidos, caso contrário, as seguradoras não terão retorno financeiro.

O mercado angolano apresenta atualmente uma das mais baixas taxas de penetração de seguros do mundo. De acordo com os dados partilhados no programa, os prémios arrecadados pelas seguradoras em Angola representam apenas 0,6% do PIB, enquanto a média mundial é de 6,7%. “Isso mostra que o setor ainda é muito pequeno e pouco representativo na economia nacional”, afirmou.

Para operar no ramo, as empresas precisam cumprir exigências de capital social mínimo. Atualmente, uma seguradora tradicional necessita de 3,5 mil milhões de kwanzas para atuar em ambos os ramos (vida e não vida), enquanto aquelas dedicadas exclusivamente aos micro-seguros terão exigências reduzidas: 875 milhões de kwanzas para operar nos dois ramos, 375 milhões apenas para o ramo vida, e 500 milhões para o ramo não vida.

Um exemplo concreto mencionado foi o caso de Marrocos, onde foi implementado um micro-seguro voltado apenas para a malária, com custos extremamente acessíveis. Contudo, Carlos Rosado mostra-se cético quanto ao sucesso dessa solução em Angola. “Somos um país de baixos rendimentos. Se alguém ganha 60 mil kwanzas por mês, mal tem para as despesas básicas. Como vai pagar um seguro?”, questiona.

Ele lembrou ainda a experiência das “contas Banquita”, que foram criadas com a promessa de promover a bancarização da população de baixa renda, mas que, segundo ele, não trouxeram resultados expressivos. “Não se registou um aumento considerável da taxa de bancarização com a Banquita. Por isso, não há garantias de que os micro-seguros conseguirão alterar o cenário atual do setor segurador”, afirmou.

Para Rosado, a principal barreira continua sendo a fraca capacidade financeira da maioria da população. Ele sugere que a fiscalização de seguros obrigatórios, como o de acidentes de trabalho e o seguro automóvel, poderia trazer resultados mais imediatos e eficazes. “Em muitos casos, os prémios em Angola já são mais baixos do que na Europa, o que mostra que o problema central é mesmo a falta de rendimento das famílias”, completou.

Apesar das incertezas, o jornalista reconhece que os micro-seguros podem enriquecer a oferta do mercado. “É mais um produto. Se for bem regulado e implementado com responsabilidade, pode trazer algum alívio a determinadas situações. Mas não devemos alimentar grandes expectativas”, concluiu.

COM:CARLOS ROSADO DE CARVALHO

Data de Emissão: 22-04-2025 às 07:10
Género(s): Economia
 

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