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Economia sem makas: Taxas de juro do microcrédito são leoninas

As sociedades de microcrédito em Angola desvirtuam o espírito com que foi criada a concessão destes pequenos créditos para pessoas mais vulneráveis da sociedade. Chegam a rivalizar com a banca tradicional na concessão de créditos para consumo a trabalhadores do Estado ou até da Sonangol.

Os empréstimos através de sociedades de microcrédito em Angola podem custar até 180% do capital emprestado ao fim de dois anos, com taxas de juro mensais que variam até aos 7,50%, um sinal de que em Angola este é um negócio bastante vantajoso para quem empresta, mas que mete o microcrédito praticado no País muito longe dos propósitos mais sociais com que foi criado nos anos 70 do século passado.

O microcrédito foi idealizado pelo professor de economia Muhammad Yunus no Bangladesh, através de uma experiência onde concedeu pequenos empréstimos, com seus próprios recursos, a famílias muito pobres de produtores rurais, principalmente a mulheres, experiência que anos mais tarde lhe valeu o prémio Nobel da Paz, por ter conseguido retirar muitas pessoas da situação de pobreza, mas em Angola apenas partilha o nome já que de social pouco tem.

Isto porque foi concebido para ser um crédito especializado para determinado segmento da economia: o pequeno empreendimento informal e a microempresa, estando voltado para apoiar pequenos negócios, geridos por pessoas de baixa renda. Supostamente não se destina a financiar o consumo, mas em Angola essa prática é comum, já que há quem chegue a solicitar estes créditos para, por exemplo, poder casar, segundo apurou o Expansão.

Numa ronda feita pelo Expansão às principais sociedades de microcrédito em Luanda, foi possível detectar que em Angola este é um negócio que pode gerar grandes rendimentos a quem empresta. O levantamento foi feito com base em informações recolhidas nas sociedades de microcrédito Avança na vida, Facilcred, Kixicrédito, Microcapital, Multicrédito, Nespecred, Somicre e Wiliete crédito.

Estas sociedades de microcrédito normalmente apresentam taxas de juros mensais que variam entre 1,67% a 7,50%. Quanto mais tempo passa até ao fim do reembolso, mais caros vão ficando estes empréstimos que podem chegar a custar até 180% do valor inicialmente solicitado, caso tenha um período de dois anos.

Para se ter uma ideia, ao solicitar um montante de 500 mil Kz a uma taxa mensal de 7,5% ao mês, com um prazo de reembolso de um ano (12 meses), paga-se uma prestação mensal que ronda os 79 mil Kz totalizando no final do período o equivalente a 950 mil Kz (capital inicial mais os juros). No final do período, o cliente reembolsa a instituição financeira além do valor do empréstimo mais 450 mil Kz, que equivale a 90% do valor inicial.

Já com um prazo de reembolso de 24 meses, o mesmo valor (500 mil Kz) e à mesma taxa de juros mensal (7,5%), as prestações ficam a 58 mil Kz por mês, o que totaliza no final do período 1,4 milhões Kz (capital inicial mais os juros). Neste caso, além do montante de crédito cedido, o cliente paga mais 900 mil Kz à sociedade de microcrédito, que obtém um lucro de 180% com este crédito.

Os créditos com períodos de reembolso mais curtos acarretam menos custos mas exigem prestações mensais mais avultadas, o que para indivíduos com poucos recursos (que supostamente é o público alvo desta modalidade de crédito) acaba por não ser viável muitas vezes. Com excepção dos casos em que são solicitados valores mais baixos.

O valor do crédito disponibilizado pelas instituições vai de um mínimo de 3 mil Kz a 7 milhões Kz no máximo, com prazos de reembolso entre 3 a 24 meses.

De acordo com o economista Maximiano Muende, os custos do microcrédito no País são altos porque os custos de contexto são elevados e o ambiente de negócios é hostil. “Não existe ambiente propício para se fazer negócios em Angola, isso faz com que o custo do capital seja bastante elevado e os mercados, incluindo o sector financeiro, sejam altamente especulativos”, sublinha.

Apesar de defender que o microcrédito é no País um produto comercial e, por isso, procura atingir fins lucrativos para a entidade que o comercializa, o especialista admite que do ponto de vista do alcance das camadas sociais para o qual foi desenhado, o microcrédito no País está distante de ser satisfatório mas é necessário perceber que até o microcrédito acarreta riscos, ainda mais quando direccionado a empreendedores que operam num mercado onde mais 80% vão à falência em menos de 3 anos.

Data de Emissão: 05-06-2024 às 07:10
Género(s): Economia, Opinião
Tópicos(s): BNA, Emis

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