Economia sem Makas, Segunda-feira negra em Luanda
Economia sem Makas – Edição de 29 de Julho de 2025
Tema: Segunda-feira negra em Luanda
Apresentação: Manuel Vieira
Comentário: Carlos Rosado de Carvalho
Na mais recente edição do programa “Economia sem Makas”, o economista Carlos Rosado de Carvalho analisou os graves acontecimentos registados em Luanda na segunda-feira, 28 de julho de 2025, marcada por confrontos, pilhagens, vandalismo e forte repressão policial, no contexto da paralisação dos taxistas. A cidade mergulhou num cenário de caos, com mobilidade fortemente condicionada, pneus queimados nas vias, estabelecimentos vandalizados e relatos de confrontos com forças de segurança.
Carlos Rosado classificou o dia como “uma segunda-feira negra”, sublinhando que os atos de violência são condenáveis e injustificáveis, mas que é fundamental compreender as causas profundas que levaram a esta explosão de descontentamento social. Segundo ele, os alertas já vinham sendo feitos por diversos analistas e instituições, apontando para o risco crescente de instabilidade social face ao agravamento das condições de vida no país.
Durante a intervenção, Rosado fez referência a um seminário promovido pelo Banco Mundial na sexta-feira anterior, onde se discutiu a necessidade de um novo modelo de crescimento económico para Angola. Os dados partilhados nesse encontro, segundo ele, ajudam a explicar o cenário vivido na capital: desemprego elevado (cerca de 50% entre os jovens), pobreza extrema, informalidade laboral acima dos 80%, inflação persistente acima dos 25%, fraco investimento em capital humano e grande dependência do petróleo, um recurso em declínio.
Angola, que tinha uma produção de 1,8 milhões de barris diários em 2004 para uma população de 19 milhões, produz hoje pouco mais de 1 milhão para cerca de 30 milhões de habitantes. Esta redução tem impacto direto na receita fiscal e nas reservas cambiais, agravando a fragilidade económica.
Carlos Rosado advertiu que a frustração dos jovens, que representam uma grande fatia da população angolana, aliada à falta de oportunidades de trabalho e educação, está a alimentar o desespero social. Para ele, o país precisa urgentemente de um novo modelo de crescimento económico baseado no setor privado, investimento em educação, saúde, infraestruturas e instituições fortes.
O economista destacou ainda que a imagem internacional de Angola saiu prejudicada, tendo os acontecimentos sido amplamente divulgados pelas televisões internacionais, inclusive na semana em que terminou a FILDA – uma das principais feiras internacionais de negócios no país. Segundo ele, o ambiente de instabilidade afasta o investimento privado, essencial para o desenvolvimento sustentável.
Rosado sugeriu que o Presidente da República convoque o Conselho de Consolidação Social, um órgão previsto para reunir de seis em seis meses, mas que está inativo. Defendeu que o diálogo entre o Governo, os sindicatos e os representantes da sociedade civil é crucial para encontrar soluções sustentáveis e evitar novas crises.
Concluiu afirmando que a forma como os protestos ocorreram não deve repetir-se, mesmo havendo razões legítimas para o descontentamento. Apelou à união nacional e ao respeito pelo Estado de Direito, lembrando que não se resolve a crise social com violência, mas com políticas públicas eficientes e participação cidadã.