Economia sem Makas, Malparado das privatizações sobe quase três vezes para 23 mil milhões de kwanzas
Economia sem Makas | Edição de 11 de Julho de 2025
Tema: Malparado das privatizações sobe quase três vezes para 23 mil milhões de kwanzas
Comentário de Carlos Rosado de Carvalho
Apresentação de Manuel Vieira
O valor do malparado no processo de privatizações em Angola aumentou de forma significativa, atingindo 23 mil milhões de kwanzas, quase três vezes mais do que os números anteriores. A análise foi feita por Carlos Rosado de Carvalho, na mais recente edição do programa “Economia sem Makas”.
Apesar da subida, Rosado considera que o valor não é alarmante, uma vez que representa apenas 4% do total das receitas das privatizações. Este número é inferior, por exemplo, à média do crédito malparado no setor bancário angolano, que ronda os 20%.
Segundo o economista, o incumprimento resulta da possibilidade legal de pagamento em prestações, prevista nos contratos de venda de activos públicos. Com a atual crise económica, muitos compradores enfrentam dificuldades para gerar receitas, o que compromete os pagamentos.
Rosado revelou ainda que alguns empresários pretendem usar títulos da dívida pública para pagar os activos comprados ao Estado, mas o IGAPE não aceita essa forma de pagamento — uma contradição, já que o Estado utiliza frequentemente esses mesmos títulos para saldar dívidas com empresas.
Entre os maiores devedores, destacam-se:
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A Fazenda do Quizenga, com cerca de 4,5 mil milhões de kwanzas em dívida;
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Vários hotéis da rede IU, anteriormente ligados ao empresário Carlos São Vicente;
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A empresa Textang II, com dívidas superiores a 3 mil milhões.
Carlos Rosado elogiou o grau de transparência do processo de privatizações, destacando que o site do IGAPE permite consultar os dados por empresa: montante da venda, nome do comprador e valor em incumprimento.
Um caso concreto de reversão de contrato foi também abordado: a fábrica têxtil do Dondo, cuja gestão foi retomada pelo Estado devido ao não pagamento das rendas previstas.
O economista conclui que, embora os valores estejam a subir, o fenómeno é natural em processos de crédito. No entanto, defende que, sempre que necessário, o Estado deve retomar o controlo dos ativos em caso de incumprimento persistente.