Economia sem Makas, Elite Africana do turismo e da aviação civil aterrou em Angola para tratar o futuro dos dois sectores umbilicalmente ligados
ECONOMIAS 100 MAKAS
Edição de 24 de Julho de 2025
Tema: Elite Africana do turismo e da aviação civil aterrou em Angola para tratar o futuro dos dois sectores umbilicalmente ligados
Comentários de: Carlos Rosado de Carvalho
Apresentação: Manuel Vieira
Angola recebeu, nesta semana, uma reunião de alto nível que juntou a elite africana do turismo e da aviação civil. Estiveram presentes, entre outros, o Presidente da Organização Internacional da Aviação Civil, o Diretor da ONU Turismo – África, além de ministros dos Transportes e do Turismo de diversos países africanos. O encontro destacou a ligação direta e estratégica entre turismo e aviação, setores considerados “umbilicalmente ligados”, já que cerca de 50% dos turistas que visitam África chegam por via aérea.
O economista Carlos Rosado de Carvalho alertou para os grandes desafios que o continente ainda enfrenta em matéria de mobilidade. Apesar da proximidade geográfica entre muitos países africanos, são raras as ligações aéreas diretas. Em muitos casos, é preciso viajar até à Europa, ao Médio Oriente ou à África Austral — como Joanesburgo ou Addis Abeba — para depois regressar ao destino final no continente. Um exemplo citado foi o voo entre Lusaka (Zâmbia) e Ruanda, que deveria ser uma viagem curta, mas frequentemente exige escalas longas e desnecessárias.
Além disso, Rosado de Carvalho sublinhou que as dificuldades vão muito além da aviação. A mobilidade dentro de África está fortemente condicionada pela precariedade das infraestruturas — desde estradas, telecomunicações e energia, até à rede hoteleira e ao sistema de saúde. Outro entrave é o regime de vistos entre países africanos, considerado rígido e, muitas vezes, arbitrário. Mesmo quando os vistos são concedidos ou dispensados, não é garantida a entrada. Foram citados casos como o de um antigo chefe de Estado do Botswana, impedido de entrar em Angola, e dos humoristas Gilmário Vemba, um português e um brasileiro, barrados à chegada a Moçambique.
Para Rosado de Carvalho, este é o típico “problema do ovo e da galinha”: não há turismo porque não há transporte aéreo — ou não há transporte aéreo porque não há turismo. E alerta: “O problema está identificado. As soluções também. Agora é preciso fazer. Luzes, câmara, ação!”
Entre as propostas discutidas na cimeira estão a construção de infraestruturas básicas, a implementação de uma regulação mais favorável ao setor, a liberalização de vistos e, sobretudo, o compromisso político dos Estados em transformar boas intenções em ação concreta. A conferência destacou também o imenso potencial do continente. Apesar de albergar 18% da população mundial, África representa pouco mais de 2% do tráfego aéreo global. Os destinos turísticos são vastos, diversos e de grande beleza natural e cultural — mas, como resumiu Rosado de Carvalho: “Do potencial estamos nós fartos. O potencial está lá desde que Deus criou a Terra. O problema é passá-lo à prática.”
O comentário final do economista foi direto: “Recebemos uma cimeira sobre turismo e liberdade de circulação… mas barramos pessoas nos aeroportos. Faz o que eu digo, não faças o que eu faço.”