Economia sem Makas, BNA vende 162,7 milhões de dólares aos bancos para atender ao aumento de procura de divisas nas férias grandes
Economia sem Makas
Edição de 07 de Agosto de 2025
Apresentação: Manuel Vieira
Comentador: Carlos Rosado de Carvalho
Tema: BNA vende 162,7 milhões de dólares aos bancos para atender ao aumento de procura de divisas nas férias grandes
O Banco Nacional de Angola (BNA) colocou à disposição dos bancos comerciais 162,7 milhões de dólares, medida justificada pelo aumento sazonal da procura de divisas durante as férias grandes, que coincidem com o verão do Hemisfério Norte. A operação divide-se em duas tranches: uma de 61,1 milhões destinada a particulares, e outra de 90,9 milhões especificamente para companhias aéreas, sobretudo para cobrir operações em atraso.
Segundo Carlos Rosado de Carvalho, embora o BNA não tenha explicado detalhadamente o modelo de distribuição, é pouco provável que se trate de um leilão tradicional. Acredita-se que os montantes serão alocados conforme as necessidades específicas dos bancos, priorizando os que apresentam maior volume de operações pendentes, tanto de clientes individuais como empresariais.
O comentador recorda que a taxa de câmbio se tem mantido artificialmente estável nos últimos meses — entre os 911 e os 955 kwanzas por dólar — o que, segundo ele, indica uma administração não declarada da taxa pelo banco central, apesar da suposta liberdade do mercado de câmbio. A venda de dólares nesta ocasião visa justamente evitar pressão sobre o câmbio num momento de alta procura.
No caso das companhias aéreas, a medida surge como resposta aos atrasos nas transferências internacionais. Estas empresas vendem bilhetes em kwanzas em Angola, mas têm compromissos em moeda estrangeira, como pagamentos de leasing e manutenção. A IATA, associação internacional do setor, colocou Angola entre os dez países do mundo com maiores restrições a transferências de fundos, com um atraso acumulado de 84 milhões de dólares. A liberação dos 90,9 milhões deve regularizar essa situação.
Para os particulares, a alta na procura é explicada pelo aumento de viagens para o exterior nesta época do ano, associada às férias escolares e familiares. Isso pressiona os bancos por dólares para emissão de bilhetes e remessas ao exterior. Rosado de Carvalho aponta que, no primeiro semestre de 2025, houve uma queda de 11% nas divisas disponibilizadas aos bancos em comparação com o mesmo período de 2024, o que agravou a escassez.
O uso de cartões pré-pagos também tem sido restringido, segundo dados do próprio BNA, refletindo a menor disponibilidade de moeda externa. A medida atual, porém, é vista pelo analista como positiva, ao aliviar os atrasos e estabilizar o mercado cambial sem recorrer a mecanismos administrativos diretos.
Para Carlos Rosado de Carvalho, é assim que o banco central deve atuar: vendendo divisas quando há excesso de procura e comprando quando há excesso de oferta, permitindo que o mercado cambial funcione de forma fluida e transparente.