Economia sem Makas, edição de 06 de Agosto de 2025
Economia sem Makas – 06 de Agosto de 2025
Tema: Pessimismo das famílias angolanas diminuiu no início do ano, mas continua a níveis muito elevados
Apresentação: Manuel Vieira
Comentador: Carlos Rosado de Carvalho
A análise baseou-se no mais recente Inquérito de Conjuntura às Famílias, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), instrumento que mede regularmente o índice de confiança das famílias angolanas em relação à situação económica do país e das suas próprias condições de vida.
Carlos Rosado explicou que, desde o terceiro trimestre de 2022, o pessimismo das famílias angolanas vinha a aumentar de forma contínua. No entanto, no primeiro trimestre de 2025, verificou-se uma ligeira melhoria, com o índice de confiança a subir de -19,7% para -16,7%.
O índice é medido em “saldo de respostas extremas”, ou seja, a diferença entre as famílias otimistas e as pessimistas. Um valor negativo significa que há mais pessimistas do que otimistas.
Apesar da melhoria, a maioria das famílias continua pessimista relativamente à evolução da economia e da sua situação financeira pessoal nos próximos 12 meses.
Detalhes por indicador
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Situação económica do país (próximos 12 meses): saldo de -7,7 pontos percentuais
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Situação financeira das famílias (próximos 12 meses): saldo de -15,8 pontos percentuais
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Expectativas sobre o desemprego: cerca de 30 pontos percentuais negativos, indicando que a maioria acredita que o desemprego irá aumentar
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Perceção sobre os últimos 12 meses:
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60% dos inquiridos acreditam que a situação económica do país piorou
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Percentagem semelhante considera que a sua própria situação financeira também piorou
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Impacto económico
Carlos Rosado destacou que o pessimismo das famílias tem implicações diretas na economia, dado que o consumo representa aproximadamente 75% do PIB. Se as famílias estão pessimistas, tendem a consumir menos, o que pode travar o crescimento económico.
Além disso, o inquérito revela que há baixas expectativas de consumo duradouro:
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61% das famílias afirmam que não tencionam comprar carro nos próximos dois anos.
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40% não têm planos de comprar ou construir casa no mesmo período.
Apesar do cenário negativo, houve um pequeno sinal positivo: a percentagem de famílias que dizem ser possível poupar aumentou ligeiramente, passando de 21,4% para 23,4%.
Rosado associa este comportamento ao facto de, em tempos difíceis, as famílias se tornarem mais cautelosas, ajustando os seus hábitos de consumo e tentando reservar recursos.
Desde que o inquérito começou a ser publicado regularmente, no quarto trimestre de 2019, nunca foi registado um índice de confiança positivo. Isto significa que, durante quase 6 anos consecutivos, as famílias angolanas sempre se mostraram mais pessimistas do que otimistas.
Carlos Rosado de Carvalho concluiu que, embora tenha havido uma pequena redução no pessimismo, o sentimento negativo ainda é muito forte e generalizado. A mudança no primeiro trimestre de 2025 pode representar um ponto de viragem, mas ainda é cedo para afirmar se se trata de uma tendência duradoura.