Economia sem makas: Barril de petróleo perto dos 90 USD, impulsionado pela degradação da situação geopolítica mundial
Não se prevendo que a Rússia queira alargar a guerra para fora do território ucraniano e que os países árabes tomem medidas mais duras face à invasão de Israel na faixa de Gaza, os especialistas consideram que o mercado está estável e que o preço médio por barril deve oscilar entre os 83 e os 85 USD.
Nos primeiros três meses do ano. o preço do barril de petróleo (índice Brent) que é referência para as ramas angolanas aumentou 10 dólares, passando de 75 para 85 USD, o que na prática resulta num aumento de 13,3%. Não foi uma subida regular mas de forma oscilante (ver gráfico), sendo que a média para 2024 se está a posicionar acima dos 80 USD. A 7 de Fevereiro foi a última vez que esteve abaixo deste valor, e desde 14 de Março que o preço está acima dos 85 USD.
“Não é de prever que suba mais. Hoje a indústria está a trabalhar de forma estável, não há excesso de oferta nem se prevê que o consumo aumente de forma significativa, pelo que entendo que durante este ano deverá manter-se nesta faixa entre os 82 e os 85 USD. Isto, se não acontecer um facto extraordinário” – refere Patrício Quingongo, CEO da PetrAngola.
Quando se fala em factos extraordinários, as atenções centram-se nas duas guerras que estão a acontecer – Palestina e Ucrânia – sendo que a lógica mantém- -se, ou seja, se os conflitos se agudizarem os preços sobem, se houver cessar-fogo, os preços podem baixar.
Para muitos dos especialistas o impacto dos conflitos no preço do barril já se fez sentir, e numa lógica de que a Rússia não quer alargar o conflito para fora do território ucraniano e que os países árabes não vão tomar outras medidas mais duras face à invasão israelita da faixa de Gaza, estes não serão factores desestabilizadores do preço do barril de petróleo a curto e médio prazo.
Sobre a Rússia cabe acrescentar que continua a exportar toda a produção que não necessita, tendo encontrado outros canais para o crude que era encaminhado para os países ocidentais. O governo russo anunciou um corte na produção, mas que tem a ver com as necessidades de manutenção das estruturas e não com qualquer dano colateral da sua guerra com a Ucrânia. Já sobre o gás é diferente. Na verdade não foi possível até agora “arranjar” mercado para os volumes que eram canalizados para a Europa.
Existe um grupo de analistas que defende que a meio do ano o preço pode chegar aos 90 USD, fundamentalmente porque existem diferenças importantes naquilo que são as previsões de consumo da OPEP e da Agência Mundial de Energia, sendo que os mais optimistas acreditam numa pressão da procura para fazer aumentar os preços. “Quando falamos dos barris físicos, não há óleo a mais no mercado e o facto de os carregamentos que vêm do Médio Oriente terem que passar por Cape Town faz aumentar os custos, e consequentemente os preços. Mas não acredito nessa meta dos 90 USD para os próximos três meses. Acho que prever uma média anual de 85 USD por barril para este ano será mais acertado”, explica José Oliveira, especialista do sector.
Também não existem previsões para que o preço possa cair para baixo dos 80 USD por barril por excesso de oferta. Não houve nenhuma grande descoberta que possa a curto e médio prazo influenciar o mercado, a última foi na Namíbia que se vai tornar produtor daqui a uns anos, nas Guianas a produção tem vindo a aumentar mas de forma paulatina, deve atingir um milhão de barris/ano dentro de dois anos, fundamentalmente pelo desenvolvimento do projecto da Exxon Mobil, mas tudo isto não terá impacto durante este ano. Em outras zona do globo, como na Venezuela e no Irão por exemplo, também não se prevêem aumentos da oferta capazes de influenciar os preços.