Economia sem Makas – Edição de 31 de Julho de 2025
Comentador: Carlos Rosado de Carvalho
Apresentador: Manuel Vieira
Tema: As consequências económicas dos três dias de caos
As repercussões económicas da recente vaga de violência e instabilidade social em Angola já começaram a fazer-se sentir, com sinais claros de aumento da inflação, escassez de bens e retração do investimento. O economista Carlos Rosado de Carvalho, no programa Economia sem Makas, alertou esta quarta-feira que o país poderá enfrentar um impacto económico mais profundo e duradouro caso não haja uma resposta política adequada e responsável por parte das autoridades.
De acordo com Rosado de Carvalho, as pilhagens e vandalismo que afetaram várias superfícies comerciais sobretudo nas periferias de Luanda, provocaram o encerramento temporário de muitas lojas, reduzindo de forma significativa a oferta de bens essenciais no mercado. Esta retração da oferta, aliada à destruição parcial da frota de distribuição, está a gerar disrupções na cadeia de abastecimento e a criar condições para um aumento dos preços, alimentado também por comportamentos especulativos por parte de alguns comerciantes.
Para além da pressão inflacionária imediata, o ambiente de insegurança e medo está a afetar o comportamento dos consumidores e das empresas. As ruas, apesar de mais calmas, permanecem pouco movimentadas, sinal de uma sociedade civil ainda em estado de alerta. Esta retração na circulação terá impacto direto no comércio e na distribuição de produtos, agravando ainda mais a situação económica.
O economista salientou que a confiança dos agentes económicos sofrerá um duro golpe, o que deverá refletir-se nos próximos inquéritos de conjuntura. Contudo, é no investimento já em queda acentuada nos últimos anos que as consequências poderão ser mais dramáticas. Com níveis de investimento a recuar para patamares semelhantes aos de 2006, a nova crise política e social compromete a já frágil atratividade do país junto de investidores estrangeiros. Para Rosado, apenas os investidores que já operam em Angola manterão a sua presença, enquanto novos investimentos tenderão a ser suspensos ou cancelados.
A forma como o Governo responderá à atual crise será determinante para o rumo da economia angolana. Carlos Rosado de Carvalho alerta que, se a opção for a repressão, o país poderá mergulhar num ciclo ainda mais perigoso de instabilidade. Em contrapartida, uma postura aberta ao diálogo poderá contribuir para a recuperação da confiança e para a retoma da atividade económica.
Em síntese, o economista deixou um aviso claro: sem investimento, não há criação de emprego; sem emprego, não há salários; e sem salários, não há consumo. A economia, conclui, pode simplesmente travar.