E... TUDO O MÊS DE JUNHO NÃO LEVOU

E… TUDO O MÊS DE JUNHO NÃO LEVOU

 

A problemática da protecção da criança não é nova em Angola, em África e no resto do mundo.

O tema trabalho infantil continua na agenda dos governos. Leis e convenções internacionais continuam a ser criadas, actualizadas e a servir de esteio para a protecção dos direitos infantis.

Mesmo assim, o desleixo ou desinteresse de adultos que obrigam crianças a trabalhar, chocam, martelam sem piedade a sensibilidade de quem vê nas crianças a ponte entre o passado e o futuro.

Práticas como o casamento infantil, a excisão, o abuso e a violência sexual e física, continuam a ser uma realidade nesse mundo cada vez mais domesticado pelas tecnologias, mas incapaz de pôr fim à esses comportamentos que atiram para o contentor de lixo a dignidade das crianças vítimas de violência.

Ao nível das famílias a situação é mais grave, por ser lá onde maioritariamente esses crimes ocorrem. Mas é também nela onde o filho tem direito a ter mais comida no prato do que a filha, como se o tamanho do estómago dependesse do género, é no “lar doce lar”, onde pais decidem que é o rapaz que deve ir a escola, ao passo que a menina é atirada para as tarefas domésticas.

Mas, o sofrimento de muitas dessas crianças não termina aí, quando são violados os seus direitos, em muitos casos a imprensa revitimiza a própria criança, ou por lhes atribuir a maturidade de um matulão, ou por identificá-las com o nome, imagem, endereço ou objectos que facilmente pessoas conhecidas ficam a saber de quem se trata, gerando bullyng, em muitos casos.

 

Ainda assim, é importante que os jornalistam saibam que uma representação mediática com descaso ou excesso de proteccionismo pode provocar reacções sociais que desvalorizam ou supervalorizam as crianças. Vale aqui a regra: “nem 8, nem 80”.

O jornalismo define e redefine os padrões comportamentais sociais, logo, tem uma importância crucial na formação da opinião pública sobre a infância, e tudo devem fazer para não serem potenciais fontes de estereótipos e outro tipo de pré-julgamentos da infância. Mas, deixemos o jornalismo tratar das suas malambas!

Frases como “mais uma chuva, essa miúda já está pronta”, são ditas com a maior irresponsabilidade desde que me conheço como gente, mas nunca ouvi nenhuma constestação, nem da imprensa, nem das organizações femeninas, muito menos da entidade responsável pela protecção da criança, já que frases como essas servem de gatilho para pedofilia.

Por outro lado, não me lembro de ter ouvido alguma iniciativa para acabar com o fenómeno MANGA DE 10, e que tenha ecoado na sociedade.

Já que estamos a falar da criança, atiro uma última pedra ao charco. É importante que quem de direito saiba que a merenda escolar não só motiva, como melhora as capacidades intelectuais dos alunos. Mecham em tudo, menos na merenda escolar!

Como podem ver, muito ainda há por se destilar em prol do desenvolvimento integral da criança, por isso, espero que as discussões de temas sobre os direitos da criança não tenham ficado no mês de Junho!

JOSÉ OTCHINHELO

(29.06.2021)

Data de Emissão: 29-06-2021 às 10:00
Género(s): Crônica
 

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