Crónicas do Otchinhelo: Eles Perderam o medo

ELES PERDERAM O MEDO

As palavras: suposto, alegado, arguido, presumível e outras com o mesmo significado que a rica língua portuguesa tem, foram ditas na KIANDA em praticamente todas as semanas deste ano, se não mesmo todos os dias.

Não pretendo evocar aqui um estudo sobre representação, para saber a frequência com que aparecem, nem sobre linguística para actualizar os seus significados, não.

Mas, repito, as palavras: suposto, alegado, arguido, presumível e outras com o mesmo cunho, foram ditas na maior parte das vezes, nos noticiário da Rádio Luanda, com o mesmo denominador comum, a violação sexual.

Não sou especialista mas, essa chaga social, já devia ser classificada como um problema de saúde pública, sim saúde pública mental.

Há dias que escrevo essas notícias como se estivesse a engolir um pedaço grande de kikuanga sem mastigar.

Os números semanais de violações sexuais já parecem de actividades desportivas, ditas e aceites com naturalidade, quando na realidade há mais alguém ou uma família cuja a vida foi destruída para sempre.

Para piorar o violador está tão bem camuflado na sociedade que pode ser um padre, pastor, professor, director de colégio, vizinho, pai, avô, primo, ou seja, os alegados são na maioria tão próximos das vítimas que nem o Diabo consegue prever tamanha maldade.

Se antes às autoridades reclamavam do silêncio das famílias e da comunidade, hoje o cidadão reclama a suposta ou alegada impunidade dos casos de violação sexual. E quando há condenação, as penas são tão brandas, que muitos desses indivíduos saem do tribunal a rir.

Por isso, à casa das leis eu peço, sim, peço de joelhos, por favor, nessa legislatura não ignorem mais esse problema social.

Repito, senhores deputados, por favor, façam alguma coisa, porque os agressoseres sexuais há muito que perderam o medo!

 

José Otchinhelo

   (10.10.2022)   

 

Data de Emissão: 10-10-2022 às 08:00
Género(s): Crônica
 
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