Crónicas do Otchinhelo: A cabeça de João Baptista

A CABEÇA DE JOÃO BAPTISTA?

O mistério da cabeça sem corpo continua a intrigar muita gente sedenta de uma explicação cujos ventos possam levar a verdade aos anjos, sem acrescentar, nem tirar uma palavra.

Se ao menos aquele contentor falasse ou tivesse uma câmara de vídeo vigilância por dentro, não teríamos perdido o apetite ao sermos surpreendidos com a tal notícia.

A lógica foi desafiada, desta vez quem não regulou foi o corpo, que sumiu e fez a cabeça passar vergomha sozinha na imprensa.

Talvez deva procurar o Jaime Bunda, não sei o que continua ele a fazer em Nova York se a Guerra Fria há muito que terminou!

Para desgraça alheia, nem com Noventa Palavras, Luís, o melhor dos nossos detetives, conseguiu decobrir quem é o Lebron James que fez a cesta daquela cabeça naquele contentor de lixo da cidade.

Sim, lixo da cidade.

Não era o nosso lixo, era o lixo deles, talvez por isso, não se importassem com aquela cabeça. Talvez não tivesse valor e pronto, era apenas um resíduo sólido, não reciclável.

O melhor dos poetas, diria que, não se tratou de um caso amoroso como o que levou aquele escritor premiado da CPLP as estepes da Mongólia depois de ter crescido junto a fenda da Tundavala. Não!

Era apenas uma cabeça, como todas as outras cabeças, com ou sem corpo que circulam por Luanda.

Ter sido achada por volta das cinco horas, só reforça a ideia de que as madrugadas são tão fecundas à arte, quanto a própria vida!

Não é atoa que Neto desistiu, sim desistiu de esperar, implorou que todos esperassem por ele, ante o silêncio na aldeia angolana com as várias Joanas Maluca a bisbilhotar o que escondem os contentores de lixo nas madrugadas, ainda mais, lixo sem tronco e membros.

 

Talvez digam: Foi apenas um acidente como o de Cahito que engravidou a mais linda beldade de um quimbo não imaginário de Wahenga Xito, ou como aquele, dos filhos da peixeira Manana atirados na maiombola pelas amigas desta em nome do pregão, hé peixe, hé peixe, é peixéééé´!

Mas, uma coisa é certa, aquela, não era a cabeça de João Baptista, já que não foi apresentada numa bandeja de prata. Talvez por isso, não tenhamos nos importado com o seu rosto e muito menos para onde ele olhava quando respirou pela última vez.

Termino tão bruscamente como o recital da notícia, sem perguntas, sem culpados, e tal como o José Pedro Benge, eu também digo e com raiva:

– Desliga o mambo!

 

José Otchinhelo

  (05.09.2022)

Data de Emissão: 05-09-2022 às 08:00
Género(s): Crônica
 
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