Comentário sobre a colectiva de imprensa do Presidente João Lourenço 

Comentário sobre a colectiva de imprensa do Presidente João Lourenço na Rádio Nova com o João Pinto

Lo esteve muito melhor do que tem estado na sua relação com a imprensa, o que também era previsível, tendo em conta o ano eleitoral que já começamos a viver.
JLo esteve, sobretudo, muito mais disponível para falar o que não faz bem o seu género, pois até é conhecido por responder pergunta com pergunta ou por dar as chamadas respostas curtas e tortas.
A tal ponto esteve disponível, que JLo até pecou por excesso para uma conferência de imprensa mesmo restrita, com destaque para todo aquele historial de mais de meia hora que fez sobre as quatro empresas com quem o governo é acusado de ter relações menos transparentes ou mais privilegiadas.
O tema podia ter sido esgotado com uma maior economia de palavras, o que quanto a mim seria muito mais eficaz do ponto de vista da comunicação política.
Podemos dizer que sua pré-campanha eleitoral teve início esta quinta-feira com uma abordagem mais substancial de todas as questões com que foi confrontado, ficando por saber como é que a sua mensagem passou, ou seja, se foi ou não convincente.
O resultado seria certamente diferente se os jornalistas tivessem insistido na sequência de algumas respostas dadas por JLo que efectivamente mereciam alguma réplica.
A resposta que menos me convenceu foi a que ele deu sobre o recuo da democratização no país depois de todas as expectativas alimentadas no primeiro ano do seu mandato.
Na verdade o próprio PR desafiou a jornalista que lhe colocou a pergunta a apresentar mais elementos que sustentassem a sua “tese”.
Olhando bem para pergunta da Nisa Mendes, reparamos que ela se limitou a citar a avaliação de vários círculos sociais e políticos que têm manifestado este desapontamento com aquilo que eu considero ser o fim da “primavera lourencista”.
■PS1-Já me pronunciei antes do encontro sobre o modelo escolhido com uma abordagem onde está claro que esta solução para mim, para além de ser atípica, também conflitua com a própria liberdade de imprensa.
Tendo os jornalistas que foram convidados aceite as regras do jogo, só me resta analisar os resultados da partida que todos assistimos.
Perguntei a um dos colegas que participou no encontro se estavam proibidos de rebater alguma resposta do PR.
A minha fonte disse que não, que não havia nenhuma limitação expressa nesse sentido.
Assim sendo, admito que terá faltado dos jornalistas presentes alguma acutilância, pois na segunda ronda todos poderiam ter rebatido algumas das respostas dadas pelo PR na primeira volta.
■PS2-Como disse na minha observação feita antes do encontro, os prognósticos deste tipo de jogo só podiam ser feitos no fim.
O importante agora é analisar a qualidade da informação prestada pelo PR, sobretudo através do fact-cheking, pois os jornalistas não são propriamente adversários do seu interlocutor, nem pouco mais ou menos.
Neste e noutros casos o interesse dos jornalistas é conseguirem com as suas perguntas obterem as melhores e mais esclarecedoras respostas na perspectiva da satisfação do interesse público.

O Executivo está empenhado em tudo fazer para reduzir, de forma significativa, a presença do Estado na economia.

“O Estado quer desfazer-se de muitos activos que tem, por entender que este espaço deve ser ocupado pelos privados”, disse o Presidente da República, João Lourenço, durante a entrevista concedida à TV Zimbo, ao Jornal de Angola, ao Jornal Expansão, ao Jornal “O País” e à Agência Lusa, na manhã de hoje, 6 de Janeiro, no Palácio Presidencial.

O Presidente João Lourenço recordou aos jornalistas que o Executivo angolano, há três anos, negociou uma linha de crédito com um banco alemão (Deutsche Bank), avaliado em mil milhões de euros, para servir exclusivamente o sector privado.

“A única empresa que beneficiou desta linha de crédito, em 200 milhões de euros, chama-se Leonel Carrinho. Ainda estão disponíveis 800 milhões”, garantiu, alertando que o credor impõe condições e quem beneficiar desta linha de crédito tem cobertura de garantia soberana do Estado angolano. 

Além de destacar a Carrinho, considerou a Omatapalo uma empresa de grande dimensão à altura de executar grandes empreitadas de obras públicas. 

“Construiu o novo Complexo Hospitalar Cardio – Respiratória Dom Alexandre do Nascimento. Todos os países querem ter uma empresa dessa dimensão”.

Até ao momento, não sendo descoberta nenhuma ilicitude nas suas fontes de financiamento, o Presidente João Lourenço entende que o Estado deve acarinhá-la e criar condições para o surgimento de empresas nacionais que não busquem dinheiro à Sonangol ou à Endiama.

JUSTIÇA SELECTIVA

A pergunta sobre a existência de justiça selectiva no país não faltou à entrevista ao Presidente da República. Em resposta, pediu que se pare com a ladainha de perseguição de filho do A ou B.

“A justiça não se deve preocupar se de quem é filho. Fazer da nossa justiça selectiva é isso: dizer que o filho de A ou B não deve ser condenado. Se a justiça angolana se deixar levar por este caminho, não só deverá ser uma justiça selectiva, como será uma justiça injusta”.

CASO MANUEL VICENTE

Ainda sobre Justiça, João Lourenço explicou que Angola bateu o pé pela remessa ao país do processo do antigo Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, porque havia acordos nesse sentido entre os dois países amigos.

“Com este exercício de defesa da soberania, não estamos a dizer que não há crime. Quem somos nós para dizer isso. Também não estamos a dizer que, com a recepção, o processo está arquivado. Se ele beneficiou do estatuto de ex- Vice-Presidente da República, a PGR deve cumprir. O que deve acontecer depois de perder as prerrogativas, a justiça sabe como fazer. Mas o processo não está arquivado”.

BAJULAÇÃO

O Presidente João Lourenço é contra a bajulação e o culto de personalidade. 

“Se fosse a favor da bajulação e do culto de personalidade, nos kwanzas que tem no seu bolso teria lá a minha cara. Esse é apenas um exemplo, mas significativo”, disse sem rodeios ao jornalista que o questionou a respeito.

Para o Chefe de Estado, o culto de personalidade e a bajulação são nefastos, por isso combate estas práticas com actos concretos e não apenas com discursos.

“Eu não encorajo, mas se o fizer não sei que medida vamos tomar. Crime não é. É uma questão de educação e mudança de mentalidade”.

NOVO “AMÉRICO BOAVIDA”

Para o sector social, a grande novidade é que “daqui a dois ou três anos, teremos um novo Hospital Américo Boavida”.

Entre outras temáticas abordadas ao longo da entrevista, o Presidente da República manifestou a sua vontade de continuar a trabalhar para o bem-estar dos cidadãos angolanos, em particular dos trabalhadores.

PARTICIPANTES

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