Café da Manhã com Paulina Chiziane
Café da Manhã com
Paulina Chiziane cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem ter concluído o curso.
Participou ativamente na cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou durante a juventude. A escritora declarou, numa entrevista, ter apreendido a arte da militância na Frelimo. Deixou, todavia, de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as directivas políticas do partido Frelimo pós-independência, sobretudo em termos de políticas filo-ocidentais e ambivalências ideológicas internas do partido, quer pelo que diz respeito às políticas de mono e poligamia, quer pelas posições de economia política marxista–leninista, ou ainda pelo que via como suas hipocrisias em relação à liberdade económica da mulher.
É a primeira mulher que publicou um romance em Moçambique. Iniciou a sua atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. As suas escritas vem gerando discussões polémicas sobre assuntos sociais, tal como a prática de poligamia no país. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento (1990), a autora discute a poligamia no sul de Moçambique durante o período colonial. Devido à sua participação ativa nas políticas da Frelimo, a sua narrativa reflete o mal-estar social de um país devastado pela guerra de libertação e os conflitos civis que aconteceram após a independência.
Paulina vive e trabalha na Zambézia. O seu romance Niketche: Uma História de Poligamia ganhou o Prémio José Craveirinha em 2003.
Em 2016, anunciou que decidiu abandonar a escrita porque está cansada das lutas travadas ao longo da sua carreira.
Em 2021, tornou-se a primeira mulher africana a ser distinguida com o Prémio Camões, a mais prestigiosa honraria conferida a escritores lusófonos, patrocinada pelos governos de Brasil e Portugal. Sobre o inédito reconhecimento, declarou Paulina: “Não contava com isso. Recebi a notícia e disse: ‘Meu Deus! Eu já não contava com essas coisas bonitas!’ É muito bom. Esse prêmio é resultado de muita luta. Não foi fácil começar a publicar sendo mulher e negra. Depois de tantas lutas, quando achei que já estava tudo acabado, vem esse prêmio. O que eu posso dizer? É uma grande alegria.”
Prémios e Reconhecimento
- 2003 – Prémio José Craveirinha de 2003, pela obra Niketche: Uma História de Poligamia
- 2010 – A Casa de Moçambique em Portugal homenageou-a em 2010, em Maputo.[10]
- 2013 – o então Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, condecorou-a com o grau de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique
- 2021 – Ganhou o Prémio Camões
- 2021 – é lançado o documentário Paulina Chiziane: do mar que nos separa à ponte que nos liga, sobre a sua vida e obra.
- 2023 – 100 mulheres mais inspiradoras do mundo pela BBC.
Obras Seleccionadas
Entre as suas obras encontram-se:
Romance
- Balada de Amor ao Vento:
- 1.ª edição, 1990.
- Lisboa: Caminho, 2003. ISBN 9789722115575.
- Ventos do Apocalipse:
- Maputo: edição do autor, 1993.
- Lisboa: Caminho, 1999. ISBN 9789722112628.
- O Sétimo Juramento. Lisboa: Caminho, 2000. ISBN 9789722113298.
- Niketche: Uma História de Poligamia:
- Lisboa: Caminho, 2002. ISBN 9789722114769.
- São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
- Maputo: Ndjira, 2009, 6ª edição. ISBN 9789024796281.
- As Andorinhas, 2009 1ª Edição, Indico Editores
- O Alegre Canto da Perdiz. Lisboa: Caminho, 2008. ISBN 9789722119764.
- Na mão de Deus, 2013
- Por Quem Vibram os Tambores do Além, 2013, com Rasta Pita
- Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento, 2015.
- O Canto dos Escravizados, 2017.
Outras obras
- Eu, mulher… por uma nova visão do mundo (Testemunho, em 1992 e publicado em 1994)
Obras sobre Paulina Chiziane
- MARTINS, Ana Margarida Dias. The Whip of Love: Decolonising the Imposition of Authority in Paulina Chiziane’s Niketche: Uma História de Poligamia. in The Journal of Pan African Studies, vol. 1, n.º 3, março de 2006.
- PEREIRA, Ianá de Souza. Vozes Femininas de Moçambique. Dissertação de mestrado apresentada ao departamento de Letras da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Trata-se de uma análise comparativa dos romances Ventos do Apocalipse (1999) e Niketche: uma história de poligamia (2004), na qual se discutem as representações e o papel social da mulher em romances que se pautam na intensa força das relações sociais que informam a maneira de agir de homens e de mulheres em Moçambique.
- SILVA, Érica, Paulina Chiziane e a voz feminina moçambicana através do texto literário (2019), Revista Darandina.
- TEDESCO, Maria do Carmo Ferraz. Narrativas da Moçambicanidade: Os Romances de Paulina Chiziane e Mia Couto e a Reconfiguração da Identidade Nacional. Tese apresentada ao Departamento de História da Universidade de Brasília. Brasília, novembro de 2008.