Economia sem Makas, Lei da alienação fiduciária pode dar novo fôlego ao mercado de compra e venda de imóveis

Economia sem Makas

Tema: Lei da alienação fiduciária pode dar novo fôlego ao mercado de compra e venda de imóveis

Edição: 08 de Agosto de 2025

Apresentação: Manuel Vieira

Comentador: Carlos Rosado de Carvalho


O setor imobiliário em Angola está a reagir com entusiasmo à aprovação, em Conselho de Ministros, de um decreto-lei que introduz a alienação fiduciária nas operações de crédito imobiliário. Segundo vários empresários do ramo, esta medida — já existente no Brasil, onde produziu bons resultados — poderá alterar significativamente a forma como se compra casa no país. O principal defensor desta legislação em Angola é o empresário brasileiro Cleber Correia, antigo presidente da Associação dos Profissionais de Mediação Imobiliária (PIMA).

Atualmente, quem recorre ao crédito imobiliário escolhe um imóvel, pede um empréstimo ao banco e, após a compra, torna-se proprietário, dando o imóvel como hipoteca. Em caso de incumprimento, o banco precisa de recorrer à justiça para executar a hipoteca — um processo moroso e ineficaz.

Com a alienação fiduciária, o processo muda:

  • O comprador adquire o imóvel através de crédito, mas a propriedade formal permanece com o banco até à quitação total da dívida.

  • Em caso de incumprimento, o banco — como credor fiduciário — pode vender o imóvel diretamente, sem recorrer a tribunal, entregando ao comprador apenas a diferença entre o valor da venda e o saldo da dívida.

Para Carlos Rosado de Carvalho, a medida reduz o risco para a banca e pode tornar os bancos mais dispostos a conceder crédito imobiliário. Contudo, não é garantia de uma revolução no mercado. O economista lembra que os principais entraves ao crédito habitacional em Angola são:

  1. Taxas de juro elevadas, que se mantêm altas devido à inflação.

  2. Baixo rendimento dos angolanos, que compromete a chamada taxa de esforço — a percentagem do salário destinada ao pagamento da prestação.

  3. Preços elevados das casas, que estão muito acima da capacidade de compra da maioria da população.

Mesmo com taxas de juro preferenciais — como o aviso do Banco Nacional de Angola que permite créditos habitacionais até 150 milhões de kwanzas com juros de 7% —, um técnico superior do Estado, por exemplo, só conseguiria comprar imóveis de cerca de 50 milhões de kwanzas, praticamente inexistentes no mercado urbano central.

Assim, embora a alienação fiduciária seja vista como uma boa alternativa, Rosado de Carvalho alerta que não resolve o problema estrutural: a insuficiência salarial da maioria dos angolanos. Enquanto persistirem rendimentos baixos e inflação alta, o acesso ao crédito continuará limitado, levando muitos a optar pela autoconstrução como solução habitacional.

O comentador conclui que a nova lei é positiva por oferecer mais opções aos consumidores e dinamizar o mercado, mas que não eliminará os problemas fundamentais do setor imobiliário angolano.

Data de Emissão: 08-08-2025 às 07:10
Género(s): Economia, Opinião
 
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