Economia sem Makas, Por que o Kwanza desvaloriza face ao euro e mantém-se firme contra o dólar?

ECONOMIA SEM MAKAS

Edição de 18 de Julho de 2025

Apresentação: Manuel Vieira

Comentador: Carlos Rosado de Carvalho


O economista Carlos Rosado de Carvalho analisou hoje a evolução recente do Kwanza face às principais moedas internacionais, respondendo à pergunta: por que razão o Kwanza tem desvalorizado em relação ao euro, mas permanece estável face ao dólar?

Segundo os dados apresentados, no final de 2024, um dólar valia cerca de 912 Kwanzas. Atualmente, a cotação é praticamente a mesma: 911,95 Kwanzas por dólar. Ou seja, não houve variação significativa. No entanto, face ao euro, houve uma clara desvalorização: no final do ano passado, o euro valia 949,50 Kwanzas, mas hoje já custa 1.071,50 Kwanzas — uma perda de cerca de 11% do valor da moeda nacional perante a moeda europeia.

A explicação para essa diferença, afirma Carlos, está na política cambial do Banco Nacional de Angola (BNA). Embora o país declare ter uma taxa de câmbio flutuante, na prática mantém uma taxa fixa em relação ao dólar. Desde o final de 2023, o câmbio ronda sempre os 912 Kwanzas por dólar, comportamento que já se arrasta há mais de um ano.

Na teoria, o valor do Kwanza deveria ser definido diariamente através de uma plataforma da Bloomberg, onde os detentores de divisas — como petrolíferas e o Estado — anunciam ofertas, e os bancos fazem propostas de compra. Mas, na prática, o BNA impede que os bancos comprem dólares acima de certos limites, mantendo assim o câmbio artificialmente estável.

Essa rigidez tem implicações diretas: como o valor do Kwanza está fixo face ao dólar, qualquer variação do euro em relação ao dólar acaba por se refletir automaticamente na taxa de câmbio do euro face ao Kwanza.

Carlos alerta que esta política é insustentável no longo prazo. Já em maio de 2023, Angola enfrentou uma grande desvalorização do Kwanza quando a pressão no sistema rebentou, comparando o fenómeno a uma “panela de pressão” que acaba por explodir.

Atualmente, o cenário económico angolano agrava-se. As receitas do petróleo — principal fonte de divisas do país — caíram 758 milhões de dólares no primeiro semestre de 2025, face ao mesmo período do ano anterior. Isso deve-se a dois fatores: uma quebra de 17 milhões de barris na produção e uma descida do preço médio do barril, de 102 para 72 dólares.

Como consequência, o Tesouro reduziu a venda de divisas ao sistema bancário: foram vendidas 822 milhões de dólares entre janeiro e junho de 2025, contra 924 milhões no mesmo período de 2024 — uma quebra de 11%.

Com menos dólares no mercado e uma procura praticamente constante, a lógica seria que o preço da moeda americana subisse. No entanto, isso não acontece porque o BNA mantém a taxa fixada, contrariando a dinâmica natural da oferta e da procura. Para agravar, muitos bancos não conseguem comprar dólares por falta de Kwanzas — um reflexo da atual política monetária restritiva.

Carlos conclui com uma reflexão: “Quanto tempo mais conseguiremos sustentar esta taxa fixa?” A resposta, admite, é incerta. Mas uma coisa parece clara: o segundo semestre de 2025 será particularmente difícil para o Kwanza, face ao aperto cambial e à escassez de divisas.

Data de Emissão: 18-07-2025 às 07:10
Género(s): Economia, Opinião
 

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