ERA NO TEMPO DOS TAMARINDEIROS
 

ERA NO TEMPO DOS TAMARINDEIROS

Estava eu com amigos de várias idades a desfrutar o domingo, tentando nos desforrar dos poucos dias de descanso, metendo a conversa em dia, a mugimbar sobre a beleza da nova vizinha, enquanto saboreavamos uma lambula, com bastante cebola, azeite e o picante fora do comum, fazendo lacrimejar e provocar as narinas até dos que se gabavam de comer gindungo desde a infância! Como acompanhante, mandioca e batata doce cozidas.

Estão ansiosos em saber o que bebíamos? Não digo. Já basta nós, fofoqueiros de ocasião!

Tarde amena. Os kotas do grupo, lembravam com nostalgia, os tempos em que se cantava com compromisso, os meninos a volta da figueira, os tempos em que no 1º de Maio, nos comíssios recebiam lições do bom socialismo. Lembravam dos almoços entre camaradas, de muito vermelho, preto e amarelo nas ruas e, de tudo mais que gravitava em torno de vários feriados Nacionais.

 

Feriados a parte e política arrumada para fórum próprio… mostrei aos kotas que eu também tenho lembranças, afinal também tive infância!

Não pude deixar de pensar nos meus primeiros anos de escolaridade, no meu Golfe, e de cacheche comecei a verbalizar algumas coisas daquele bom tempo em que os professores eram nossos primeiros pais. Nos surravam para crescermos com sabedoria. Hoje perderam a autoridade.

Lembrei-me então de algumas lições:

A Lebre e o Camaleão, que nos ensinava que adiantar não é chegar.

Da lição Muito Obrigado, áh!!! Era difícil não ser educado quando alguém nos fazia um bem, e sabíamos que nos transportes públicos devíamos ceder o acento aos mais velhos e grávidas.

Quem não se lembra do Grande Desafio, com lágrimas, percebo agora porque os putos já não jogam futebol a sério e o nosso Raimundo Neves diz que viu as últimas partidas de futebol, nos anos 80!

Quem não se lembra da lição a Comuna, onde o nosso querido professor não percebia que estávamos a ler “CUACUACO”, ao invés de Cacuaco.

O Velho e o Rapaz, grande lição para quem gosta de tirar conclusões apressadas. Que nos ensinava ainda que os mais velhos têm muita sabedoria e que devemos ser pacientes. “Anda”, dizia o velho insistentemente ao rapaz impaciente.

E Na Xitaca do Velho Cafuchi, qual a criança que não queria ter um corral com vários animais!

E o milagre da lição Já Chegamos Camarada! Estudar era mesmo um dever revolucionário. Quem sabia, ensinava. Quem aprendia fazia-o com vontade de pôr em prática.

Conhecíamos os nossos escritores, o Hino Nacional, estava na ponta da língua, sabíamos sem pestanejar a extensão territorial do nosso país e que a cima de tudo, orgulhavamos-nos por Angola ser um país grande e belo.

Quanta saudade daquele bom tempo!!!

Meu maior medo hoje, é se os miúdos da actualidade se esquecerem das suas lições, se não aprendem com prazer como nós.

E antes que me chamassem de saudosista, parei com as lembranças da minha Primária e continuei a mastigar as pinhas da lambula com bastante gindungo sem vergonha de lacrimejar!

 

JOSÉ OTCHINHELO

(18.07.2021)

 

Data de Emissão: 18-07-2022 às 10:00
Género(s): Crônica
 
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