Álvaro Sobrinho explica que não fugiu para Angola
Entrevista a SIC Notícias ao ex-banqueiro Álvaro Sobrinho, arguido no processo BES Angola.
jornalista Nelma Serpa Pinto.
“Só em agosto” é que as autoridades portuguesas lhe pediram o passaporte português e o cartão de cidadão, garantiu à SIC
O ex-presidente do BES Angola, Álvaro Sobrinho, diz que que “atualmente” tem “somente uma” nacionalidade: a angolana. “Nunca fui notificado” da perda da nacionalidade portuguesa, garante o empresário, acrescentando que apenas foi “interpelado” no aeroporto de Lisboa quando vinha de Angola.
“Só em agosto é que as autoridades portuguesas, através da Polícia Judiciária e da PSP, me comunicaram que tinham ordem para ficarem com o meu passaporte português e o meu cartão de cidadão”, garante.
Além disso, Sobrinho diz que não vai voltar a investir em Portugal. “O dinheiro [em Portugal] é sempre considerado dinheiro sujo”, diz o empresário em entrevista à SIC Notícias.
Esta quarta-feira, o Ministério Público anunciou que ia abrir um inquérito ao caso do banqueiro Álvaro Sobrinho, sendo uma decisão que surgiu na sequência da Investigação SIC que revelou que este usou indevidamente documentos portugueses durante 40 anos.
O banqueiro angolano Álvaro Sobrinho viajou pelo menos três vezes de Portugal desde que lhe foram apreendidos os documentos portugueses, ao fim de 40 anos a usá-los indevidamente. A Investigação SIC descobriu ainda que pediu 10 vezes documentos portugueses e com “máxima urgência” depois de renunciar à nacionalidade.
A Investigação SIC descobriu que, durante quatro décadas, após a renúncia à nacionalidade portuguesa, o banqueiro angolano renovou o bilhete de identidade, o cartão de cidadão e o passaporte uma dezena de vezes.
Os pedidos foram feitos em várias conservatórias e registos em 1989, 1996, 2010, 2015, 2020. Em duas das vezes, o banqueiro pediu que a emissão dos documentos fosse feita com urgência. Em 11 de agosto de 2010, por exemplo, alegou “extrema urgência” na emissão do cartão de cidadão no Departamento de Identificação Civil de Lisboa.
A SIC teve acesso exclusivo ao relatório interno do Instituto dos Registos e Notariado, que concluiu ter havido falhas “informáticas e humanas”.
O IRN chegou à conclusão que em todos os pedidos de renovação, nunca foi pedida certidão de nascimento. E que em 2011, quando o sistema foi informatizado, o averbamento do assento de nascimento de Sobrinho foi feito com erro.
O ex-presidente do BESA renunciou à nacionalidade portuguesa em 1984, mas continuou a declarar-se português e renovou documentos nacionais durante 40 anos, aproveitando um conjunto de falhas do IRN.